sábado, 13 de fevereiro de 2010

Projecto

Título: Pelas Ruas do Bairro Novo
Subtítulo: Apontamentos Arte Nova



Sumário
Promover o convívio ao ar livre, a socialização entre comunidades dispersas, o conhecimento e a percepção estética do património construído, a preservação dos recursos culturais e de cidadania através da prática do pedestrianismo em circuitos orientados para a preservação da natureza construída apetrechando-os com marcadores de rota, placards de informação. Desenvolver competências de planeamento e execução de actividades experimentais em saídas de campo, com recolha de dados ambientais de sensores que serão georreferenciados com GPS, complementados com fotografias e outra informação produzida pelos alunos. O produto final (ficheiro KMZ) é visualizado no Google Earth, sob a forma de gráficos de dispersão espacial dos dados dos sensores e balões de informação.

Summary
To promote mingling in the open air, socialization among diverse communities, the acknowledgment and the aesthetic perception of the natural values, the preservation of the biotic, cultural and citizenship resources through the praxis of pedestrianism in oriented circuits for the preservation of nature. This will be achieved with the help of markers of the different ways, information placards in which there will be ecological characterization, systemic registers about the fauna and flora, traditional economy (agriculture, aquaculture, salt culture, traditional food), patrimony, landscapes and free time activities. To develop the planning and execution of experimental activities in field trip and to gather environmental data from sensors which will be geo-referenced by using a GPS and enriched with photos and other information provided by the students. The final product (a KMZ file) may be accessed in Google Earth as space dispersion graphics, showing the sensor data and the information pop-outs.



A) Os objectivos e a descrição da acção/proposta

Enquadramento
O concelho da Figueira da Foz possui ecossistemas, biótopos e habitats muito ricos e diversificados, mas sujeitos a impactes, por vezes profundos, das áreas urbanas, industriais, portuárias e, também, do abandono e desleixo por desconhecimento e maus hábitos das populações.
Certas unidades territoriais mais sensíveis sofrem pressões diversificadas que põem em risco o equilíbrio natural e a biodiversidade, enquanto noutras a destruição de peças valiosas do património histórico-cultural parece ter tomado um rumo irreversível.
A ausência de massa crítica e a fraca capacidade de iniciativa de cidadãos cada vez mais confinados ao espaço urbano, ao comodismo do automóvel e às monótonas e limitadoras experiências vivenciais em superfícies comerciais repletas exige-nos uma mudança de comportamentos.
Nessa medida, vinca-se a necessidade de informar e sensibilizar as populações para a mudança de hábitos e para estilos de vida saudáveis, ao mesmo tempo que participam em programas de educação ambiental e de defesa do património que lhes permitam usufruir plena e racionalmente da paisagem natural e construída.
Numa cidade em que, se não tem valorizado o património construído e onde são por demais evidentes as perdas sofridas e, consequentemente, o empobrecimento global, sem a correspondente substituição por obras de qualidade, o facto de existir ainda um conjunto de construções que, pelas suas características decorativas, estéticas e formais se pode enquadrar no movimento artístico das primeiras décadas do século XX, que tomou em Portugal a designação de Arte Nova, convida-nos a criar um circuito turístico dedicado a esta corrente artística ainda representativa especialmente na zona do Bairro Novo.

Não sendo uma manifestação muito ostensiva, e podendo passar um pouco despercebidos aos menos atentos e sensibilizados, a verdade é que esta gramática decorativa, não passou ao lado do gosto dos proprietários e construtores da época, que de uma forma mais arrojada ou mais singela integraram o azulejo, a cantaria ou a serralharia artística ao gosto da gramática decorativa que marcou os alvores do Século XX, dando um toque de modernismo às fachadas e conferindo por vezes um novo ritmo à sua leitura.

Esta abordagem ao património do concelho, que pretende, com a devida integridade, invocar novos elementos patrimoniais identitários da cidade, justifica a elaboração de um circuito turístico que possa funcionar também como uma nova actividade ao serviço da comunidade, através da sensibilização, observação e redescoberta destes apontamentos que, em varandas, janelas, portas de edifícios ou remates de fachadas, se apresentam elegantes e discretos mas que podem fazer a diferença de um simples passeio pelas ruas da cidade.

Contextualização histórico-artística local
Foi num contexto particularmente feliz, que a História designou por Belle Époque, abalizado aproximadamente entre 1880 e 1910, que nasceu a corrente artística Arte Nova.
Em Portugal, a Arte Nova foi mais tardia e teve menor duração, tornando-se conhecida apenas por volta de 1905 e desaparecendo cerca de 1920, mas deixou a sua presença bem assinalada. Com maior inclinação para a influência do modelo francês, dado o prestígio cultural que França tinha então entre nós, a Arte Nova portuguesa assume uma característica muito nacional ao conjugar este vocabulário decorativo com algumas características da Arte portuguesa então presente. Na cidade de Aveiro, com maior evidência, e com forte representatividade nas cidades de Lisboa e Porto, também ao nível regional a arte nova se reproduziu e manifestou como Coimbra, Leiria, Estarreja, Cascais, Caldas da Rainha, Ílhavo, e Figueira da Foz, proporcionando algumas tipologias regionais que merecem o seu destaque.
À semelhança do que acontece nas restantes cidades do país, a Arte Nova reflecte-se na Figueira da Foz não como uma corrente artística destacada mas sim como uma gramática ou apontamento decorativo aplicado ao edificado, sendo o Bairro Novo um dos locais mais favorecidos na utilização desta linguagem ornamental em diversas fachadas de residências e estabelecimentos comerciais.

No final do século XIX a Figueira da Foz viveu um período áureo a nível económico e cultural, coincidente com o seu crescimento urbanístico, que se fazia sentir já desde a 2.ª metade dessa centúria.

Em 1868, resultado da grande afluência de veraneantes e incremento da actividade balnear, projectou-se um novo bairro, virado para o mar e inspirado nalgumas estâncias balneares francesas, designado na sua origem de Bairro Novo de Santa Catarina. Destinava-se, essencialmente, a espaço urbano de lazer e alojamento dos veraneantes. Este é o grande momento de viragem da cidade da frente de rio para a frente marítima, numa atitude que lhe altera não apenas a estrutura urbana mas muito especialmente lhe confere outra característica funcional, promovendo a distinção entre o então designado “Bairro Velho” com o recém-criado “Bairro Novo”.
É aqui que se concentram, ainda hoje, algumas das mais belas casas oitocentistas, e de inícios de novecentos que, na história da arte, se integram na tipologia Tradicional Português e nas correntes artísticas Arte Nova e Arte Déco.
A parte velha da cidade, a zona laboral, voltada ao Rio, apresenta igualmente alguns apontamentos Arte Nova e Arte Déco dignos de registo. No seu conjunto, entre a “Cidade Velha” e “Bairro Novo”, a Arte Nova caracteriza-se pelos desenhos coloridos dos azulejos aplicados na decoração de cimalhas ou zonas mais ocasionais das fachadas, os elementos de arabescos, em linhas curvas ou motivos naturalistas, essencialmente florais, em alvenaria ou estuque, que rematam e decoram a fachadas de alguns edifícios e, muito especialmente, a utilização do ferro fundido, material que se encontra especialmente bem representado na Figueira da Foz, na construção de varandas, beirais de janelas e bandeiras de portas.
Na decoração dos edifícios estes apontamentos identificam-se desde as cantarias à serralharia artística, sendo o azulejo, contudo, o suporte privilegiado desta tendência artístico na cidade, aplicado em frisos ou rematando janelas, com os seus desenhos florais, estilizados e coloridos, tão ao gosto desta época.

Não tendo elementos ou qualidade significativa para definir uma “diferença regional” a Arte Nova na Figueira da Foz é suficientemente existente para que dela se justifique a elaboração do estudo e inventário fazendo referência à sua duração no tempo, identificando os projectistas/desenhadores que conferiram ao edificado o seu pendor “arte novizado” e apresentando o motivo e proveniências do azulejo arte nova na cidade, por ser ele o elemento mais marcante da sua existência. Os trabalhos em ferro, pese embora a falta de documentação que sustente uma análise mais detalhada, pela sua diversidade e qualidade merecem igualmente a sua integração no presente Roteiro, pois é visível nas suas formas e desenhos o conhecimento da gramática decorativa Arte Nova pelos serralheiros responsáveis.
É a partir da primeira década do séc. XX e até finais da década de 20 que os proprietários começam a requerer remodelações às suas habitações, quer a nível estrutural quer a nível decorativo. A nível estrutural todas as casas ganham normalmente um ou dois pisos e um sótão sendo o piso térreo transformado para loja/comércio. A nível decorativo são as fachadas dos imóveis que recebem alguns elementos ornamentais, ao gosto da corrente estilística da época, que lhes confere uma tipologia “arte novizada”, o que as permitem integrar hoje o inventário do património Arte Nova na cidade, traduzindo-se esta essencialmente na aplicação de azulejos decorativos em frontões, frisos, arquitraves, ou simples apontamentos em pequenas zonas da fachada, alguns elementos decorativos em alvenaria, normalmente de motivo floral ou, por vezes, o próprio desenho ondulante conferido às molduras de varandas e janelas, em curvas e contracurvas, utilizando também grandemente enrolamentos de caules de flores ou flores estilizadas nos gradeamentos das varandas em ferro.
Datam de 1912-13 os primeiros processos existentes no Arquivo Urbanístico Municipal que revelam a introdução desta estética nos edifícios das cidades através do desenho conferido a alguns elementos decorativos ou de alvenaria.
São no entanto dos anos de 1918 a 1922 a maioria dos projectos dos edifícios “arte novizados” na Figueira da Foz, na sua maioria assinados por dois ou três desenhadores. Destacam-se aqui a presença do nome de João Maria de Assumpção Costa, enquanto projectista e construtor civil e António Augusto Pires Sangalho, projectista. César Caniceiro da Costa e Cesário Arthur são os outros nomes que aparecem na assinatura dos projectos dos edifícios desta época.

O Bairro Novo

O Bairro Novo é o emblema da época áurea da cidade da Figueira da Foz.

Esta nova área resulta do enorme e crescente afluxo de veraneantes que, em meados do século XIX, chegavam à cidade. Por iniciativa do Eng.º Pereira da Silva, foi criada uma empresa de construção (a Companhia Edificadora Figueirense), ligada a projectos de urbanização pensados, dos quais resultou este novo bairro, designado na sua origem de Bairro Novo de Santa Catarina.
Os palheiros e pardieiros então existentes foram substituídos por elegantes moradias e belas casas oitocentistas e de inícios de novecentos. Gradualmente com belas varandas e beirais à portuguesa delineados por azulejos coloridos e florais ao gosto Arte Nova ou com influências Art Déco. Os proprietários desta nova área vão demonstrando o seu gosto culto e introduzindo edifícios de importância cultural, fazendo nascer hotéis, restaurantes, casinos, etc., criando uma grande unidade nesta área. O Teatro Circo Saraiva de Carvalho / Casino Peninsular (inaugurado em 1884) afirmou-se como uma das mais atractivas salas de espectáculos do Bairro Novo e foi em seu redor que se traçou e promoveu o desenvolvimento urbanístico, social, económico e cultural desta nova zona da cidade, alimentado ainda por outras casas congéneres, como o Casino Oceano.

O plano promovido apresentava uma estrutura urbana clássica, de eixos ortogonais e de orientação principal Norte-Sul, sendo que os eixos principais convergiam todos para o eixo Forte de Santa Catarina, razão pela qual lhe foi buscar o primeiro nome com o qual foi conhecido: o Bairro Novo de Santa Catarina. Este traçado geométrico contrasta vivamente com o traçado muito mais irregular da zona velha da cidade.

Também ao nível de vivência, este novo bairro começava a rivalizar e a alterar os usos e costumes locais da cidade da Figueira da Foz e a Praça Nova, até então o centro nevrálgico da vida quotidiana da cidade, começava a ver partir para o Bairro Novo alguns dos seus cafés, hotéis e estabelecimentos comerciais, em busca de uma nova clientela, mais culta, mais “fina e elegante” e mais endinheirada.

A primeira edificação no Bairro Novo foi o Casino Mondego, posteriormente Hotel Portugal, do qual hoje apenas se mantém a memória do local, ocupado pelo moderno Edifício Portugal. Foi a partir desta zona que se desenvolveu toda a morfologia do Bairro, que mantém ainda, salvo a diferença de toponímia e a extensão de algumas ruas, o mesmo traçado.

É a Rua Cândido dos Reis, com um equipamento comercial diversificado e muito poucas casas de habitação, que serve de eixo de ligação entre a parte antiga da cidade e a praia. Em relação aos espaços verdes são o Jardim Municipal e o parque das Abadias que fazem o limite entre a parte mais antiga da cidade e o Bairro novo.

A partir da década de 80 o desenvolvimento urbanístico mais descontrolado fez desaparecer grande parte de alguns destes elementos de referência, testemunhos de uma época arquitectónica, decorativa e, muito especialmente, social.

Porém, mantém ainda o Bairro Novo um importante conjunto de edifícios oitocentistas, da época da construção do bairro, que foram sofrendo sucessivas alterações. De linguagem rústica e depurada foram enriquecidos, nas primeiras décadas do século XX, com fachadas de azulejos ou com apontamentos de azulejos florais e coloridos ao gosto Arte Nova, sendo por tal ainda bem representativos da época em apreço.

Conclusão
A Arte Nova em Portugal é ainda pouco conhecida e é urgente mostrá-la, no sentido de se conhecer melhor este estilo e também com o propósito de salvaguardar exemplos que se encontram em risco de se perderem. Propomo-nos criar meios de divulgação do circuito e alojar todas as sugestões da rota na Web e acreditamos ser possível transformar o circuito num factor potenciador de turismo cultural, de proximidade contribuindo para o desenvolvimento local sustentável. Alguns destes edifícios que se caracterizam pela presença de alguns elementos Arte Nova e, posteriormente, Arte Déco deviam ser integrados num Circuito que funcionará como um instrumento de incentivo ao turismo nas suas mais variadas formas (atraindo visitantes nacionais e estrangeiros) e contribuirá para o enriquecimento cultural do município.






Objectivos gerais
Promover o convívio ao ar livre, a socialização entre comunidades dispersas, o conhecimento e a percepção de valores culturais e de cidadania através da prática do pedestrianismo em circuitos orientados para a preservação do património construído.
Recolha de dados ambientais de sensores que serão georreferenciados com GPS e visualizados no Google Earth, sob a forma de gráficos de dispersão espacial dos dados dos sensores e balões de informação.



Objectivos Específicos:

· Inventariar o que se pode considerar, após análise artística, Arte Nova no Bairro Novo, ao nível do património edificado.
· Efectuar o registo tipológico de elementos decorativos em azulejo considerados como pertencentes à gramática Arte Nova, no Bairro Novo.
· Efectuar o registo tipológico da serralharia artística que se insere na gramática Arte Nova, no Bairro Novo.
· Marcação cartográfica da rota pedestre, georreferenciação de dados que permitam a sua integração na Carta Patrimonial da Cidade e no Google Earth.
· Integrar a sinalizar os elementos de uma gramática Arte Nova nos edifícios.
· Construir um desdobrável ou boletim informativo da rota pedestre.
· Promover a divulgação da rota pedestre para desenvolver um turismo de proximidade mais amigo do ambiente.
· Conceber e desenvolver actividades experimentais em contexto real de saídas de campo, com recurso a georreferenciação de dados adquiridos por sensores;

Indicadores da realização do projecto:
B) Os meios humanos e materiais a envolver
Pretende-se envolver toda a comunidade figueirense no projecto, as suas organizações representativas e outras entidades externas que garantam a sua continuidade. Daí que sejam essenciais acordos e compromissos para a manutenção da iniciativa e o seu aprofundamento futuro. Assim, constituiu-se uma rede inicial de instituições parceiras que conta com as seguintes entidades:
Escola Secundária com 3º Ciclo EB Dr. Joaquim de Carvalho:
Professores de Filosofia, Geografia, Biologia, Química, Desenho, Geometria Descritiva, Oficina de Artes, Oficina Multimédia, Inglês, Alemão, Francês, Língua Portuguesa e de Informática,
Alunos do 12.º Ano da disciplina Área de Projecto do Curso Artes Visuais e Científico Natural.
Colaboração técnica de Manuela Silva do Museu Municipal Santos Rocha.
Casino da Figueira da Foz:
Apoio logístico ao nível da divulgação e comparticipação na aquisição de material e equipamentos.
C) O orçamento e financiamento do projecto
Despesas não elegíveis (Salários e Consumíveis) suportadas pela Escola Dr. Joaquim de Carvalho,
Equipamentos para recolha de dados ambientais georreferenciados indispensáveis ao desenvolvimento do projecto suportados pela Escola Dr. Joaquim de Carvalho,
Telas, óleos, acrílicos, pastéis, aguarela a cargo dos alunos envolvidos no projecto.
Placards informativos e equipamentos financiados a 100% pelo Casino da Figueira da Foz,
Panfletos e Desdobráveis financiados a 100% pelo Casino da Figueira da Foz,

D) Os resultados esperados (Indicadores)
Colocar os placards informativos na rota,
Conceber e implementar as estruturas para os placards informativos,
Divulgação da rota às populações promovendo novos estilos de vida e a preservação do património construído (3 000 desdobráveis e panfletos),
Realização de uma sessão pública no Casino da Figueira da Foz para apresentação dos produtos finais,
Criação de trabalhos plásticos para exposição em locais públicos como Casino da Figueira da Foz, Juntas de Freguesia, Postos de Turismo e Câmara Municipal,
Produção de ficheiros KMZ com os dados recolhidos, georreferenciados, fotografias e textos explicativos, passíveis de ser publicados na internet e visualizados no Google Earth.
Pretende-se, ainda, com o desenvolvimento do projecto que os alunos desenvolvam contextos educativos variados (experiências concretas, trabalho de campo, monitorização, empreendedorismo, consciência ambiental e patrimonial, hábitos de consumo sustentável, turismo de proximidade, etc.).